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quarta-feira, 30 de junho de 2010

Conheça o projeto

Em 2008, iniciei um projeto para ensinar literatura, que estimulasse a leitura, mas que pudesse ser significativo para os alunos. Assim, ensinei o Romantismo do século XVIII usando a própria realidade do aluno. Fiz com que os alunos trouxessem as três gerações românticas para a comunidade através da correspondência com três grandes autores representantes de cada uma: Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves. O projeto surgiu tímido quanto às ações, mas grandioso nas formas de leitura. Mas foi agora, em 2010, que ele ganhou força, e está atingindo cada vez mais o meu ideal de educadora.
Nos anos anteriores, os alunos tiveram como ações na comunidade, variadas formas de leitura: recitais em restaurantes, “manhãrenata” (os alunos saíam pelas ruas, bem cedo, tocando músicas e recitando poesias. Muitos moradores ofereciam cafezinho, ou vinham escutar segurando panelas, paravam de varrer a casa) e leitura em creches. Foram ações ressaltando o romantismo da leitura e foram realizadas durante o estudo da escola literária Romantismo, por cerca de três meses.
Em 2010, continuei com o projeto, mas reformulei objetivos, alterei a metodologia, e acrescentei ações para atingir as três gerações numa releitura do mundo moderno. Também incentivei o protagonismo juvenil, o voluntariado.
Assim como toda a geração do momento, meus alunos estão inseridos na era da tecnologia, mas não tinham ainda se atentado para a « tecnologia social ». À medida em que o projeto era colocado em prática era visível como a mudança de valores ia assumindo uma posição de destaque nas atitudes dos alunos. O envolvimento com as ações, a empolgação na realização das atividades, a vontade de transformar a realidade foram assumindo papel de destaque. Cresceu também a motivação em relação à aprendizagem, à leitura e aos valores. As ações do projeto são:
• 1ª geração : elaboração de um DVD mostrando a história da cidade, os pontos históricos e turísticos, o folclore, a cultura. E outra parte com diferentes manifestações de leitura produzidas pelos alunos: dança, saraus, músicas.
Objetivo: Estabelecer uma parceria com clínicas, consultórios médicos e odontológicos, repartições públicas, restaurantes, para que o DVD fosse mostrado para o público freqüentador destes locais. Assim, numa sala de espera de uma clínica, enquanto esperam para serem atendidas, as pessoas assistem ao DVD. Uma forma de propagação da cultura e uma maneira de estimular a leitura. O mesmo acontecendo nos demais locais. Os dirigentes destes locais ficariam responsáveis em providenciar o aparelho de DVD e a televisão, e, nós, o DVD.
• 3ª geração: revitalizar jardins, praças e avenidas com plantação de grama e flores e colocação de placas (feitas de ferro fundido e com detalhes barrocos, próprios do artesanato local) com inscrições de pensamentos e fragmentos de poesias envolvendo escritores sanjoanenses, mineiros, nacionais e estrangeiros. Assim, a população teria um contato direto com a leitura enquanto anda pela cidade. O objetivo visou ainda à preservação do patrimônio, do meio ambiente. As placas de ferro funcionarão como moldura para o papel que terá a inscrição poética. O papel será envolvido por duas radiografias (hospitalares), que passa por um processo de descoloração, resultando num filme limpo, transparente e meio azulado. Por fim, recebem uma costura com barbante, que veda totalmente o papel, permitindo, assim, resistência à chuva, sol e demais agentes. Periodicamente, as inscrições poéticas serão trocadas, mas o filme radiográfico será conservado. Como desdobramento desta ação, dois alunos estão envolvidos numa pesquisa científica para o reaproveitamento do resíduo da descoloração das radiografias, transformando-o em tinta natural, (num primeiro momento, para carimbos) evitando, assim, que o material retirado seja descartado no meio ambiente.
• BLOG para que jovens de diferentes partes do Brasil e do mundo possam participar desta ação enviando pensamentos de autoria e de poetas regionais para que possam ser usados nas placas das praças. Isto propiciará ainda mais a ampliação da cultura na cidade, além de desenvolver esse mesmo sentimento romântico nos jovens de outros lugares.
2ª geração: As duas ações visam, através da poesia nas placas e do DVD, despertar o sentimento pela vida, levando as pessoas a refletirem sobre a necessidade da harmonia, da saúde, dos valores. Assim, os objetivos da 1ª e da 3ª gerações atingem a 2ª .

Professora Maria Rodarte – responsável e idealizadora do projeto

terça-feira, 29 de junho de 2010

Poemas

CASTRO ALVES

O Navio Negreiro
(Tragédia no mar)


'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.


'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...


'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...


'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...


Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.


Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!


Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!


Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!


Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia,
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
..........................................................


Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!


Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.



II



Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.


Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!


O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!


Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu!...



III



Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!



IV



Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...


Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!


E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...


Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!


No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."


E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...




V



Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!


Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...


São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão...


São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.


Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
...Adeus, ó choça do monte,
...Adeus, palmeiras da fonte!...
...Adeus, amores... adeus!...


Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.


Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...


Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...



VI



Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...



Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!



São Paulo, 18 de abril de 1869.
(O Poeta, nascido em 14.03.1847,
tinha apenas 22 anos de idade)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Plantação de mudas na Praça de SJDR

Plantação de mudas na Praça!

Dia 17 de junho de 2010 alguns alunos da escola Fundação Bradesco, de São João del Rei, juntamente com a orientação da professora Maria Rodarte e do porfessor da área ambiental, Waldir Júnior, fizeram um plantio de mudas na praça da cidade. O Sr. Toninho Lombarde, responsável pela parte paisagística e funcionário da Prefeitura Municipal, passou aos alunos muitos ensinamentos e se envolveu com a ideia da cultura. O Secretário Marcus Fróes, da Secretaria Agropecuária, apoiou nossa causa, abriu caminhos e também esteve presente no plantio das flores.
A seguir há um depoimento de Felipe Augusto Vitoriano, estudante da 2ª série B, falando da experiência de plantio obtida:
" O momento do plantio não foi um simples ato de plantar. Foi um momento de integração, trabalho em equipe, obtenção de conhecimento (como plantar adequadamente, por exemplo)... Enfim, uma atividade maravilhosa que nos enriqueceu de uma forma saudável, diversificada e prazerosa."